30 de ago. de 2010

 DIÁRIO DE BORDO
Nino Bellieny
Foi sumindo no tempo. Nem um telefonema, nada de e–mail, muito menos carta, essa pré-histórica forma de comunicação antes tão responsável por momentos de espera e ansiedade, o desvendar de um mistério ao ser aberto o envelope. Desapareceu. Como na  música da Blitz, escafedeu-se. Virou fumaça. Sem rastro nem perfume, apenas um nome e uma saudade.

ELA SIMPLESMENTE EVAPOROU-SE
Procurou no Orkut, pesquisou no Google,vasculhou catálogos telefônicos, olhou antigas agendas em busca de pistas dos amigos que, talvez, soubessem alguma coisa . Teria ido para algum outro país? Falava tanto em morar na Europa. Ou morrera?

ESTA IDÉIA
Fez com que passasse a ler os obituários dos jornais. Prestar atenção em qualquer detalhe para chegar até ela tornou-se obsessão. Conseguia viver normalmente, porém, em certas noites não dormia ou se dormia era um sono cheio de sonhos onde o rosto dela estava em tudo, até em camisetas como uma pop-star.

O TEMPO
Areia de ampulheta, areia por entre os dedos, fugindo e se transformando nas primeiras rugas visíveis, no olhar cada vez mais triste e nada dela, sequer um sinal. Teria sido abduzida? E os pais? Não tinha parentes? Qual a razão dos amigos também terem desaparecido?

COMEÇOU A TER CERTEZA
De que era apenas um alucinação. Mas, como? Se não cheirava nem fumava? O pouco que bebia não seria capaz de deixá-lo insano o suficiente para um delírio convincente, daqueles de seqüelas permanentes.

SIM, ELA NUNCA EXISTIRA
Era apenas uma ilusão, uma foto inventada, um calor de corpo criado por uma pele carente, uma voz feita por encomenda e frases incapazes de saírem do centro do mundo fixado eternamente em uma cabeça perdida de amor.

MELHOR PENSAR ASSIM
Que ela fora apenas miragem, lenda, mito, uma febre de pesadelos. Melhor ser internado no hospício, levar uns choques, acordar para a vida passageira de um ônibus sem rodoviária para chegar. Retornar ao convívio dos vivos, sair do cemitério das almas penadas e esquecer.

SÓ ESQUECEU DE COMBINAR
Direito o novo acordo consigo mesmo. De matar dentro de si o último resquício de lembrança auditiva, olfativa, sensorial por excelência. E quando achou que a última pá de terra havia sido despejada sobre a cova rasa do absurdo e convencido-se totalmente de que ela nunca existira... ELA SIMPLESMENTE RESOLVEU REAPARECER.

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